segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tic-Tac

Tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac

Tenho ideia que o tempo anda doente. Cada dia que passo sinto o seu coraçãozinho com mais arritmias, ele estica e estica e já anda lá nas 26 horas, mas qualquer dia o tempo pára... Ai pára, pára e depois teremos hinos escarlates, marchas contra o tempo nas avenidas das capitalis a pararem os relógios contadores de euros.
É que o tempo que é tempo também fica doente e qualquer dia as artérias coronárias de tão cansadas de correr contra o tempo param de bombear, com o engarrafamento e lista de espera pelo tempo. O coágulo forma-se, o oxigénio puff e zás ... estica o pernil!

Mas hoje o tempo correu devagar, tão devagar que até o vento me parecia em cãmara lenta a entrar por todos os orifícios do meu corpo. Cada avé maria, cada pai nosso entoado em vozes lamuriosas, lamacentas, arrastadas que por momentos me senti fora do mundo, fora da realidade... O tempo congelou-me.

Amén terminaram eles, os sinos tocaram e o tempo arrancou.

domingo, 22 de novembro de 2009

Era uma vez... Um homem sério

Um simples professor de Física, que adorava o cosmos e vibrava com todas aquelas fórmulas que o meu cérebro demasiado verde não consegue abarcar... Dava aulas com gosto e com muito muito profissionalismo! Não era um professor entusiasmante, nem particularmente bonito, jamais seria um líder de massas (mas também tenho dúvidas que as suas ambições passassem por aí). Casa, universidade, universidade, casa ... Estes eram os seus dias de felicidade. Uma mulher judia que segue a preceito a tradição, filhos adolescentes com todas as crises inerentes à idade e um PAI, um homem sério, de valores com o mundo controlado onde tudo conceptualmente lhe faz sentido!

E um dia... Tudo desaba, tentam suborná-lo (que ultraje!), a mulher pede o divórcio, é traído, o amante da sua mulher morre, ele paga o funeral do amante, a universidade enquanto instituição parece-lhe estranha, pede aconselhamento a diversoso gurus judaicos, numa conversa de surdos e surrealista que mais parece um quadro de Dali, os filhos continuam no seu mundo adolescente sem que nada os afecte...

Até que um dia sem mais nem porque tudo volta à "sua" normalidade!

Este é o novo filme dos irmãos Cohen.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pão e Vinho sobre a Mesa

Fui ao Alentejo buscar o farnel.
Os aniversários são sempre o alibi perfeito para se comer tudo o que não se deve. Alguma vez se pode fazer a desfeita ao aniversariante de jantar sem vociferar um verdadeiro arroto surdo sobre a mesa e terminar com a elegante garrafa de água das pedras no final do pasto?! Então venha o desfile de vaidades:

Entradas:
1. orelha de porco,
2. torresmos sequinhos sequinhos, uma verdadeira maravilha;
3. coelho de vinagrete;
4. pimentos assados;
5. bacalhau com grão;
6. presunto;
6. favas de vinagrete;

Prato
1. cação com ameijoas;
2. costeletas de borrego acompanhadas com migas à carvoeiro;
3. bochechas de porco;
4. arroz de cabidela;
5. cabrito no forno;

Sobremesas
1. Farófias
2. Mel e noz

Água na boca e vinho no bucho! Comi, enpanturrei-me, parecia a versão moderna de Gretel e Hansel, com mais uns quilos e anos em cima, ambos a pesarem.

Infância na minha Planície

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de febre a arder

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vai
ninguém vai levantá-lo do chão.

Mercados de Alegria


"Pateo" das Cantinas

Almoçar no escritório é, por norma, algo que me causa um certo arrepio. No entanto, por questões de euros, tempo e diminuta oferta de comes e bebes no exterior decidi aventurar-me em mares desconhecidos. Invariavelmente, sinto-me a saltar da linha de montagem de Taylor, para a gigante cantina: comida de plastico, tupperwares vindas do mar da China (nada mais apropriado), garfos e facas com osteoporose precoce e claro a internacional fila indiana para o microondas . O proletariado moderno de mãos limpas, ganha tendinites de tanto teclar e torna-se toupeirinha de tanto ler e escrevinhar ao PC. Ao invés de trautear a carvalhesa, escutamos a pop mais pop não há! Portugal ainda se encontra uns anos atrás na verdadeira modernidade, vamos a Londres e já nem garfos existem - Welcome to the Sandwich World!


Eu recuso-me, ainda como em pratos de loiça!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Medo

Tinha medo, tive medo, tenho medo
Sim, ainda sei todas as conjugações.
Escrever, dar-me, ser
É dificil olhar-me, sentir-me através de palavras, imagens, versos
Sinto sempre a mesma estranheza ... A mesma vergonha
Nego tudo, sempre tudo. Não escrevi, não sei; sou prática e racional. Humpf emoções desdenhosas.


Valha-me o escudo e a espada da lógica... Ufa, ainda só sofro da loucura normal, da aceitável entre os pares. Receio, bem, que um desdes dias dê um pontapé nos tomates de alguém, desate as amarras do barco e me renda à emoção, apetites e desejos do meu furacão.

Férias de Verão

Sinto-me leve e feliz
A boiar, a boiar... O sal a bater-me nos lábios, a língua gulosa, enguiosa a rapar.
Anos sem escrever uma única linha, um único pensamento, um só sentimento,
Sabe bem voltar, sabe bem sentir a brisa do mar.

Je suis comme Je suis

Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Quand j'ai envie de rire
Oui je ris aux éclats
J'aime celui qui m'aime
Est-ce ma faute à moi
Si ce n' est pas le même
Que j'aime chaque fois
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Que voulez-vous de plus
Que voulez-vous de moi

Je suis faite pour plaire
Et n'y puis rien changer
Mes talons sont trôp hauts
Ma taille trôp cambrée
Mes seins beaucoup trôp durs
Et mes yeux trôp cernés

Et puis après
Qu'est-ce que ça peut vous faire?
Ce qui m'est arrivé
Oui j'aime quelqu'un
Oui quelqu'un m'a aimée
Comme les enfants qui s'aiment
Simplement savent aimer
Aimer, aimer...
Pourquoi me questionner
Je suis lá pour vous plaire
Et n'y puis rien changer

Jacques Prévert