segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Comboio da Selma

Não consigo conceber quem não gosta de viajar. Fico sempre impressionada (normalmente mal) pela falta de curiosidade. Sinto sempre que só podem ser pessoas pobres de espirito, pequeninas, sem qualquer tipo de interesse. Até que conheci Selma e o seu comboio.

Quem me dera viajar no seu comboio... Vai mais longe que qualquer avião, mais rápido que qualquer jacto, atinge sitios inóspitos, voa e serpenteia pelos ares, atravessa qualquer oceano de gume certeiro. O seu comboio tem paisagens já mais vistas, seres fantásticos de outros tempos, de outras eras, de outro mundo. Não se compram bilhetes e não existem apeadeiros, o comboio é de Selma e só pode entrar quem ela convida. Cada viagem é uma obra de arte, partida sem destino, caminho virgem, monumentos que se edificam à sua passagem.


Não vi tudo, nunca verei tudo. Nunca fui convidada para ir com a Selma !

sábado, 18 de dezembro de 2010

Janela

A minha janela é a melhor janela do mundo:

Sinto a vida aqui ao lado com o perfume das boganvilias,o rolhar das folhas com a ventania invernosa, o esvoaçar do pintassilgo que chilreia, o céu que abre invariavelmente pela manhã.

A minha janela é a melhor do mundo! Não é uma janela particularmente bonita mas invade-nos com o singelo sorriso, esgar de felicidade que teima em entrar pelo nº 44.

A minha janela é mesmo a melhor do mundo! Não preciso conhecer todas as janelas do mundo para atestar a veracidade da minha certeza, sinto-a e basta-me!

Que Deus nos proteja

Que Deus (o de letra maiuscula) nos proteja. Está tudo no fio da navalha, Geração perdida de nota na mão e salta mais uma cerveja, mais uma venda para os olhos, já de si tão cegos.

Cidadania ? É reciclagem. Valores ? São os meus. Casamentos ? Há muitos. Filhos ? Existem. Amor ? Troca-se. Dinheiro ???

Sociedade pastilha, mastiga,troca e deita fora.

Beleza para a rua

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tic-Tac

Tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac, tic-tac, tictac

Tenho ideia que o tempo anda doente. Cada dia que passo sinto o seu coraçãozinho com mais arritmias, ele estica e estica e já anda lá nas 26 horas, mas qualquer dia o tempo pára... Ai pára, pára e depois teremos hinos escarlates, marchas contra o tempo nas avenidas das capitalis a pararem os relógios contadores de euros.
É que o tempo que é tempo também fica doente e qualquer dia as artérias coronárias de tão cansadas de correr contra o tempo param de bombear, com o engarrafamento e lista de espera pelo tempo. O coágulo forma-se, o oxigénio puff e zás ... estica o pernil!

Mas hoje o tempo correu devagar, tão devagar que até o vento me parecia em cãmara lenta a entrar por todos os orifícios do meu corpo. Cada avé maria, cada pai nosso entoado em vozes lamuriosas, lamacentas, arrastadas que por momentos me senti fora do mundo, fora da realidade... O tempo congelou-me.

Amén terminaram eles, os sinos tocaram e o tempo arrancou.

domingo, 22 de novembro de 2009

Era uma vez... Um homem sério

Um simples professor de Física, que adorava o cosmos e vibrava com todas aquelas fórmulas que o meu cérebro demasiado verde não consegue abarcar... Dava aulas com gosto e com muito muito profissionalismo! Não era um professor entusiasmante, nem particularmente bonito, jamais seria um líder de massas (mas também tenho dúvidas que as suas ambições passassem por aí). Casa, universidade, universidade, casa ... Estes eram os seus dias de felicidade. Uma mulher judia que segue a preceito a tradição, filhos adolescentes com todas as crises inerentes à idade e um PAI, um homem sério, de valores com o mundo controlado onde tudo conceptualmente lhe faz sentido!

E um dia... Tudo desaba, tentam suborná-lo (que ultraje!), a mulher pede o divórcio, é traído, o amante da sua mulher morre, ele paga o funeral do amante, a universidade enquanto instituição parece-lhe estranha, pede aconselhamento a diversoso gurus judaicos, numa conversa de surdos e surrealista que mais parece um quadro de Dali, os filhos continuam no seu mundo adolescente sem que nada os afecte...

Até que um dia sem mais nem porque tudo volta à "sua" normalidade!

Este é o novo filme dos irmãos Cohen.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pão e Vinho sobre a Mesa

Fui ao Alentejo buscar o farnel.
Os aniversários são sempre o alibi perfeito para se comer tudo o que não se deve. Alguma vez se pode fazer a desfeita ao aniversariante de jantar sem vociferar um verdadeiro arroto surdo sobre a mesa e terminar com a elegante garrafa de água das pedras no final do pasto?! Então venha o desfile de vaidades:

Entradas:
1. orelha de porco,
2. torresmos sequinhos sequinhos, uma verdadeira maravilha;
3. coelho de vinagrete;
4. pimentos assados;
5. bacalhau com grão;
6. presunto;
6. favas de vinagrete;

Prato
1. cação com ameijoas;
2. costeletas de borrego acompanhadas com migas à carvoeiro;
3. bochechas de porco;
4. arroz de cabidela;
5. cabrito no forno;

Sobremesas
1. Farófias
2. Mel e noz

Água na boca e vinho no bucho! Comi, enpanturrei-me, parecia a versão moderna de Gretel e Hansel, com mais uns quilos e anos em cima, ambos a pesarem.